sábado, 2 de maio de 2015

Monster of Rock 2015 – um inesquecível e monstruoso espetáculo

(Crédito: Márcio Felício)

A última edição do festival  “Monsters of Rock” (a sexta realizada no Brasil), que aconteceu durante os dias 25 e 26 de Abril de 2015, em São Paulo (SP) não só se candidata a melhor concepção da história do festival no país, como pode tranquilamente se transformar num dos maiores acontecimentos na epopeia de apresentações internacionais em nosso território. Num ano em que festivais de grande apelo comercial e de mídia, como Lollapalooza e Rock in Rio, esta edição do Monsters já se transformou no maior acontecimento do rock do ano.

A exemplo da edição de 2013, a organização do festival repetiu a fórmula de dois dias seguidos, mas apostou num cast mais caro e mais chamativo. Além disso, conseguiu reunir quase toda a nata do que mais clássico existe do universo hard rock/heavy metal. Ozzy por si só já arrastaria milhares de expectadores, assim como Kiss. Mas talvez a ideia fosse mesmo fazer história. Então, em dois dias em que praticamente oitenta mil pessoas se fizeram presentes ao estacionamento do Anhembi (colado ao Sambódromo), gente de muitos cantos do país puderam se satisfazer com apresentações de várias tendências e estilos que atravessam décadas de musicalidade a serviço da música pesada.

Uma estrutura gigantesca, mesmo a preços “europeus”, serviu de berço para dezenas de milhares de fãs, que se fizeram unidos para vislumbrar grandes, decanas e emblemáticas bandas que despejaram clássicos e contundentes repertórios sobre palcos adornados de potências sonoras e luminosas, que são premissas mínimas de uma grande apoteose de rock ad roll.

O que relato aqui é o que vivenciei no domingo, 26 de março, numa tarde paulistana que foi generosa com os amantes da boa música pesada – um clima ameno, que revezava ácidas aparições de sol com nuvens refrescantes e uma constante ameaça de chuva, que não se atreveu a molhar rostos tão motivados.

Pouco depois do meio dia vem a banda nacional Dr. Phoebes para abrir o evento. De qualquer forma uma oportunidade inescapável de uma banda nacional mostrar seu trabalho. Mas faltou clímax. Faltou ambientação ao tipo de festival. Muita gente aplaudiu, mas convenhamos, talvez alguém com um som mais pesado e direto seria mais contundente.

Depois veio a Steel Panther. Bem profissionais e com boa postura de palco, a banda veio bem representada pela ótima performance vocal de Michael Starr, mas pecou em muitas coisas. Primeiro, brincadeiras ensaiadas e a constante exibição de seios femininos nos telões (e no palco). E muito “fuck off, fuck you everybody, fuck”, fuck de graça a todo momento. Boa levada no conjunto, mas vazio nas mensagens e putaria forçada. Muita banda nacional faria melhor nesse tempo/espaço.
Então o festival começa mesmo com o Malmsteen. Com um sol impiedoso na cara, o grupo entra com bons problemas de som no palco. A estratégia de manter um tecladista como vocalista principal funciona talvez para os comandos de Yngwie. Mas foi pouco. Além disso, o set escolhido privilegiou as performances acrobáticas e técnicas do sueco, o que, na maioria da apresentação, encheu bem o saco. Poderia ter sido mais contundente, pela ocasião e pelo público.

Mas, a próxima atração compensou. O Unisonic, comandando por Michael Kiske e Kai Hansen (pra muitos a grande dupla eterna do Helloween), veio e mandou um show com pegada, alegria e interação com o público. Claro que os números do Helloween fizeram o incêndio daquele meio de tarde, mas a performance de Kiske não teria como não deixar de ser louvada. Tons altos e fortes ecoaram por toda a plateia, fechando com músicas rápidas “March of Time“, “I Want Out” (ambas Helloween) e “Unisonic”.

A seguir, vem aquele que considero o ponto alto do festival. O que poderíamos considerar como um perfeito show de rock? Som de palco padrão FIFA, set list irrepreensível, alegria estampada nas faces dos músicos, interação com o público, iluminação e pegada de palco, execução simétrica das músicas? Tudo funcionou 100% e o Accept conquistou o público com segurança, domínio do show e tradição ao heavy metal clássico da banda, mesclando sucessos do passado com material dos três últimos (e excelentes)  álbuns. Pra cair qualquer queixo e deixar as milhares de pessoas na assistência atônitas por tão ímpar exibição. Pra guardar em nossa metálica memória.

A seguir, seria a vez do Manowar tentar mostrar ao Brasil que poderia apagar a fatídica apresentação no Credicard Hall (SP) em 2010, onde privilegiou material mais novo e frustrou a maioria de seu público. Mas, o que prometia ser uma grande redenção esbarrou infelizmente no quesito estrutura sonora de palco. Não sei se, pelo líder da banda ser Joey de Maio, o som de seu baixo se mostrou muito alto, o que danificou a audição da guitarra. O set foi perfeito, entremeando sons antigos e novos. Até enfiaram Robertinho do Recife durante a “Metal Daze” pra fazer alguns pontinhos com o público. Talvez um nome mais forte na cena metal, funcionaria melhor, como Eduardo Ardanuy por exemplo. Mas as falhas continuaram. Em seu maior clássico “Batlle Hymns”, o grande solo de guitarra simplesmente sumiu na audição e um erro na condução do baixo, fez a pausa vocal se comprometer. O grande destaque do show foi Eric Adams, sempre preciso e forte em suas partes.

Depois era a vez do Judas, com o set esperado e conhecido desde a noite anterior (quando também se apresentou antes do headliner Ozzy). Sem muitas surpresas, a banda mandou seu set pesado, bem definido e revisitando diversas fases da carreira, incluindo cinco temas do último disco de estúdio. Halford , no auge de seus 63 anos, não mostrou falhas na potência e mandou bem em sons com notas impiedosas, tanto que “Painkiller” foi uma das últimas.

E pra encerrar tão fantástica edição veio o Kiss. O que dizer do Kiss. Sempre competentes, mas que trazem consigo o perfeito conceito de show. Não é apenas apresentação musical. É um desfile de grandes clássicos do hard rock dos 70/80, emoldurados pelo carisma história de Paul e Gene, mais o grande e fundamental apelo visual/estético da apresentação. Músicos que voam ou se elevam pelo palco, lasers e iluminação que exibem um conceito visual que encantaria gente que nem mesmo gosta de rock. É, sem ser literal, um espetáculo sonoro e visual. E para aqueles que sintonizam apenas na música, poderiam fechar os olhos e se incorporar praticamente os “Alive I” e “II”. Encerramento perfeito para um dia perfeito de hard rock e heavy metal na capital paulista. Uma noite que entrou para história, tanto do festival “Monsters of Rock”, como para toda epopeia de shows de música pesada no país.


O saldo, mais que maravilhoso, aponta para futuras edições que mostram poder abrigar shows dos maiores headliners do planeta, no quesito música pesada. Gigantes como Maiden, Metallica e AC/DC podem tranquilamente ocupar tal posto. “Monsters of Rock 2015”, quando um cast bem definido encontra uma estrutura de som irrepreensível e que abraça o público com serviços básicos de primeira linha como alimentação, segurança e higiene, é sinal de reconhecido sucesso. Que venham novas edições nos anos seguintes, repetindo esta fórmula. Mas por favor, reprojetem os preços dos insumos, porque, diferente das apresentações sobre o palco, foram um verdadeiro estupro financeiro.

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