(Crédito: Márcio Felício)
A exemplo da edição de 2013, a organização do festival
repetiu a fórmula de dois dias seguidos, mas apostou num cast mais caro e mais
chamativo. Além disso, conseguiu reunir quase toda a nata do que mais clássico
existe do universo hard rock/heavy metal. Ozzy por si só já arrastaria milhares
de expectadores, assim como Kiss. Mas talvez a ideia fosse mesmo fazer
história. Então, em dois dias em que praticamente oitenta mil pessoas se
fizeram presentes ao estacionamento do Anhembi (colado ao Sambódromo), gente de
muitos cantos do país puderam se satisfazer com apresentações de várias
tendências e estilos que atravessam décadas de musicalidade a serviço da música
pesada.
Uma estrutura gigantesca, mesmo a preços “europeus”, serviu
de berço para dezenas de milhares de fãs, que se fizeram unidos para vislumbrar
grandes, decanas e emblemáticas bandas que despejaram clássicos e contundentes
repertórios sobre palcos adornados de potências sonoras e luminosas, que são
premissas mínimas de uma grande apoteose de rock ad roll.
O que relato aqui é o que vivenciei no domingo, 26 de março,
numa tarde paulistana que foi generosa com os amantes da boa música pesada – um
clima ameno, que revezava ácidas aparições de sol com nuvens refrescantes e uma
constante ameaça de chuva, que não se atreveu a molhar rostos tão motivados.
Pouco depois do meio dia vem a banda nacional Dr. Phoebes
para abrir o evento. De qualquer forma uma oportunidade inescapável de uma
banda nacional mostrar seu trabalho. Mas faltou clímax. Faltou ambientação ao
tipo de festival. Muita gente aplaudiu, mas convenhamos, talvez alguém com um
som mais pesado e direto seria mais contundente.
Depois veio a Steel Panther. Bem profissionais e com boa
postura de palco, a banda veio bem representada pela ótima performance vocal de
Michael Starr, mas pecou em muitas coisas. Primeiro, brincadeiras ensaiadas e a
constante exibição de seios femininos nos telões (e no palco). E muito “fuck
off, fuck you everybody, fuck”, fuck de graça a todo momento. Boa levada no
conjunto, mas vazio nas mensagens e putaria forçada. Muita banda nacional faria
melhor nesse tempo/espaço.
Então o festival começa mesmo com o Malmsteen. Com um sol
impiedoso na cara, o grupo entra com bons problemas de som no palco. A
estratégia de manter um tecladista como vocalista principal funciona talvez para
os comandos de Yngwie. Mas foi pouco. Além disso, o set escolhido privilegiou
as performances acrobáticas e técnicas do sueco, o que, na maioria da
apresentação, encheu bem o saco. Poderia ter sido mais contundente, pela
ocasião e pelo público.
Mas, a próxima atração compensou. O Unisonic, comandando por
Michael Kiske e Kai Hansen (pra muitos a grande dupla eterna do Helloween),
veio e mandou um show com pegada, alegria e interação com o público. Claro que
os números do Helloween fizeram o incêndio daquele meio de tarde, mas a
performance de Kiske não teria como não deixar de ser louvada. Tons altos e
fortes ecoaram por toda a plateia, fechando com músicas rápidas “March of Time“,
“I Want Out” (ambas Helloween) e “Unisonic”.
A seguir, vem aquele que considero o ponto alto do festival.
O que poderíamos considerar como um perfeito show de rock? Som de palco padrão
FIFA, set list irrepreensível, alegria estampada nas faces dos músicos,
interação com o público, iluminação e pegada de palco, execução simétrica das
músicas? Tudo funcionou 100% e o Accept conquistou o público com segurança,
domínio do show e tradição ao heavy metal clássico da banda, mesclando sucessos
do passado com material dos três últimos (e excelentes) álbuns. Pra cair qualquer queixo e deixar as
milhares de pessoas na assistência atônitas por tão ímpar exibição. Pra guardar
em nossa metálica memória.
A seguir, seria a vez do Manowar tentar mostrar ao Brasil
que poderia apagar a fatídica apresentação no Credicard Hall (SP) em 2010, onde
privilegiou material mais novo e frustrou a maioria de seu público. Mas, o que
prometia ser uma grande redenção esbarrou infelizmente no quesito estrutura
sonora de palco. Não sei se, pelo líder da banda ser Joey de Maio, o som de seu
baixo se mostrou muito alto, o que danificou a audição da guitarra. O set foi
perfeito, entremeando sons antigos e novos. Até enfiaram Robertinho do Recife
durante a “Metal Daze” pra fazer alguns pontinhos com o público. Talvez um nome
mais forte na cena metal, funcionaria melhor, como Eduardo Ardanuy por exemplo.
Mas as falhas continuaram. Em seu maior clássico “Batlle Hymns”, o grande solo
de guitarra simplesmente sumiu na audição e um erro na condução do baixo, fez a pausa
vocal se comprometer. O grande destaque do show foi Eric Adams, sempre preciso
e forte em suas partes.
Depois era a vez do Judas, com o set esperado e conhecido
desde a noite anterior (quando também se apresentou antes do headliner Ozzy).
Sem muitas surpresas, a banda mandou seu set pesado, bem definido e revisitando
diversas fases da carreira, incluindo cinco temas do último disco de estúdio.
Halford , no auge de seus 63 anos, não mostrou falhas na potência e mandou bem
em sons com notas impiedosas, tanto que “Painkiller” foi uma das últimas.
E pra encerrar tão fantástica edição veio o Kiss. O que
dizer do Kiss. Sempre competentes, mas que trazem consigo o perfeito conceito
de show. Não é apenas apresentação musical. É um desfile de grandes clássicos
do hard rock dos 70/80, emoldurados pelo carisma história de Paul e Gene, mais
o grande e fundamental apelo visual/estético da apresentação. Músicos que voam
ou se elevam pelo palco, lasers e iluminação que exibem um conceito visual que
encantaria gente que nem mesmo gosta de rock. É, sem ser literal, um espetáculo
sonoro e visual. E para aqueles que sintonizam apenas na música, poderiam
fechar os olhos e se incorporar praticamente os “Alive I” e “II”. Encerramento
perfeito para um dia perfeito de hard rock e heavy metal na capital paulista.
Uma noite que entrou para história, tanto do festival “Monsters of Rock”, como
para toda epopeia de shows de música pesada no país.
O saldo, mais que maravilhoso, aponta para futuras edições
que mostram poder abrigar shows dos maiores headliners do planeta, no quesito
música pesada. Gigantes como Maiden, Metallica e AC/DC podem tranquilamente
ocupar tal posto. “Monsters of Rock 2015”, quando um cast bem definido encontra
uma estrutura de som irrepreensível e que abraça o público com serviços básicos
de primeira linha como alimentação, segurança e higiene, é sinal de reconhecido
sucesso. Que venham novas edições nos anos seguintes, repetindo esta fórmula.
Mas por favor, reprojetem os preços dos insumos, porque, diferente das apresentações
sobre o palco, foram um verdadeiro estupro financeiro.
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