Recentemente Roger Daltrey, vocalista do The Who, declarou
não ter interesse em lançar mais nenhuma música inédita. Há mais de 50 anos no
microfone da banda inglesa, o cantor justifica tal intenção baseado no cenário
fonográfico atual, onde a venda de álbuns físicos representa uma fatia mínima
do bolo total de que consome música. “Não
há mais indústria musical. Precisaríamos pagar para gravar e não haveria
garantia de retorno, pois os negócios não existem. Não pretendo gastar dinheiro
para dar meu trabalho de graça. Tenho outras coisas em que poderia
investir", declarou o cantor de 72 anos.
Há alguns anos, ao retomar as atividades em palco com sua
banda, Twisted Sister, o vocalista Dee Snider afirmou que seus fãs não querem
material novo, que apenam curtem os clássicos antigos de sua carreira. Desde
então o grupo norte americano de hard rock tem se apresentado executando apenas
músicas de seus quatro primeiros álbuns (até mesmo “Love is for Suckers”, de
1987, ficou de fora). O cantor, no entanto, prepara nos dias atuais, o
lançamento de um novo álbum solo.
Os casos de The Who e Twisted Sister elucidam claramente uma
visão mercadológica estática da música. Parecem se prender a uma fórmula
explorada há 20 anos, milhões de discos vendidos, sucessos em rádios, em TV. A realidade
cultural mudou há muito tempo. Nomes decanos como Paul Mc Cartney, David Gilmour,
Deep Purple, Eric Clapton, Judas Priest, Scorpions, parecem se preocupar mais
com a produção artística. Viveram sua vida fazendo música, criando, e continuam.
Alguém pode alegar que são artistas milionários, que não precisam mais “vender”
seu trabalho, além do que seus shows possam representar o equilíbrio financeiro
de suas carreiras. Mas outros grupos como UFO, Accept, Uriah Heep, ZZ Top não estão exatamente nessa
família de ricas bandas, mas continuam sua jornada de criar novos trabalhos, se
adaptando aos (já não tão) novos costumes de consumir música. Estamos obviamente
falando do mainstream musical, porque o cenário underground é um outro
universo.
Alguns outros exemplos, que se encontram entre os nomes top
do show bussines do rock and roll, como Kiss, Iron Maiden, Metallica, U2, além
de continuarem a vender álbuns (na proporção do consumo) e ter seus shows entre
os mais caros do planeta, ainda são empresariados por gente que soube associar
seus nomes a outras facetas comerciais além-música, como bebidas, cinema, moda,
etc.
A proposição aqui é a questão do músico não aposentar seu
desejo de continuar compondo, produzindo. Podem sim ter seus lucros a partir de
venda de seu trabalho em forma digital (Spotify, ITunes, Amazon.com, etc) ou
com uma rotina não tão constante de shows, mas o amor à arte de criação parece
não desaparecer. Formações monstruosas como Led Zeppelin, Pink Floyd, Black
Sabbath e Rush (ambos em encerramento de carreira), ao que parece não vão mais
produzir material inédito. Mas seus integrantes, em seus diversos voos solos,
continuarão. Pois a arte da composição é um elemento enraizado na alma de quem
se mete a fazer música. Ou, pelo menos, na da grande maioria.
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